segunda-feira, 19 de julho de 2010

Excesso


Por que esperar?
Se sei que você não vem
Pra que chorar?
Se sei que você não vai secar minhas lágrimas
Já é tarde pra esperar sua atenção


Já respirei bastante sua ingratidão
Hoje me faltar ar pra falar de mim
Você tirou tudo que tinha
Só deixou seu silêncio


Sempre será um sorriso a menos em meu rosto
Uma fonte a mais em meus olhos
Um desperdício a mais de palavras
E minha única chance de ter certeza


O que acontece quando queremos mais?
O coração ignora seu senso de direção
E desaba em suas ações precipitadas
Não mais bate, discretamente explode.

sábado, 17 de julho de 2010

Portão


No meio da noite eu te buscava entre as cores da parede. Vi entre elas o formato das grades do portão da sua casa.


Durante minhas buscas, meus braços me davam a impressão de que meu trabalho que eu insistia em concluir,nunca iria se realizar. Jamais passaria daquelas suas grades, a não ser que eu fosse gentilmente convidada. Acredito que não.


Deslizam-se dias. O portão já não e tão vermelho comparado com a ultima visita que eu havia feito. Mas meu trabalho dependia dele, de escancarar-se pra mim. Por bem ou por mau.


Onde estou quando não trabalho em você? Pra ser sincera fico em casa esperando para procurar novamente nas paredes.


Parece loucura quando te quero, porque sempre estou me ostentando, pra ser perfeita futuramente talvez em seus olhos. Inexorável portão que me nega de você.


Quando, e se um dia me convidar com esses seus olhos para entrar em seu humilde lar. Não ofereça água, chá, muito menos café. Sugiro apenas que me ofereça um canto, uma esquina de parede, onde eu possa te olhar, mas dessa vez irá saber que sutilmente lhe observo. Num instante de sonho profundo seus braços irão dar descanso aos meus, irão balançar em minha direção ao som de um piano que canta em nossos pés, que nos faz deitar, diante de seu palco mágico repleto de estrelas, os assíduos espectadores de um show noturno.


Parte de mim se rebela ao tocar seu rosto, cada gota de calor, suava intensamente em seus contornos montanhosos. Por que sim? Diz você diante de tudo que eu questionasse sobre o amor.


A partir de tal momento surgiu esse seu portão vermelho. Desse seu jeito de querer bloquear tudo, esconder-se, proteger seu lar, excluir de mim, de todos.


E não é apenas porque sim! Na verdade, o amor te assusta, o amor é superior a você. Seu desejo é ser maior, magnânima, mais forte até que ele.


Sua imagem diz que nada te infecta, nada te sujeita, pois criou o portão. Feito de lava de vulcão. Que tanto queimava em mim, fez de eruptivo meu coração. Agora endureceu, não é mais meu. É apenas decorativo, assustador, pra quem passa em frente em clima de paisagem, numa terra quente de sol. É verão quase sempre, pediram sem querer pra que fosse assim. Pena que não sou chuva. Poderia cair constantemente em você, pra te desfigurar, corroer. Pra que não me aflija mais do que jamais mereci.


Mas ainda é um portão. Esse é meu trabalho, que depois de me despedaçar mais do que pude. Agora me sinto predestinada para concluí-lo. Atiro minhas armas espirituais, junto com meus braços, meu corpo brilha munido de uma força sobre-humana que me surge. Suscito um toque que arranca as grades da terra, que começa a ferver novamente, me faz gritar num estado doentio, queimando-me mais uma vez. Sem ser convidada, já não preciso, o portão já faz parte de mim. O vulcão está habitando minhas novas cicatrizes. E seu coração bate naquele canto do lar, tão transparente como água, tão quente como um chá, tão forte como café. Vem-me a sede.


As paredes agora têm seu formato visto de tão perto e tão original, que antes era ofuscado pelo portão. Brilha em mim, obedecendo à dona da beleza que habita o céu eternamente pelos nossos verões, e se declara para o leito da noite fazendo seu amor ser maior que a si mesma. Sem medo, ou intervenções.


Quem diz que me olhou apenas por uma noite que seja, afirma o quão busquei você aqui. Meu trabalho finalmente foi concluído. Te tenho comigo. Sem grades, liberdade dentro do seu antigo, e meu novo lar. Onde meu corpo sem escrúpulos chorava.


E você que eu tanto procurava nas noites, soube me colocar junto com as cores na parede. Durante toda minha vida. Eu não sei quanto tempo vou ter, vou ficar. Sem dor, só passado pintado, de vermelho. Em vida, em sangue, em fogo, seu lar. Meu destino.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Conjugue-me

Complete-me no cantar das minhas angustias
Chore-me no meu ultimo suspiro
Cubra-me na minha primeira noite de frio
Engana-me durante as noites de amor

Molda-me nos sinais de sua alma
Observa-me em todas as vidas escuras
Cega-me em cada olhar seu
Transborda-me em lágrimas mortas

Reflicta-me em seu espelho mágico
Suga-me em suas bebidas quentes
Construa-me em seu coração
Corte-me das suas veias

Queime-me nas suas intenções amigáveis
Arda-me em cada chicotada uniforme
Arraste-me em seus rangeres espirituais
Odeie-me em seus resquícios de amor.