quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vazio


Eu perdi sem possuir


Ganhei dor sem sentir


Você me segurava tão feliz


Mas construiu seu sonho longe demais


Tão longe que me deixou sem sono


Deixei a luz apagada, mas meu coração está aceso


Sangrando gelo pelo suor


Nossos dias foram sobrando nas semanas


A única coisa que faltava eram seus vestígios


Tudo vem me dizer que você se foi


Mas porque ainda te vejo na minha janela?


Ou será que é meu espelho?


Por ser tão parecida com você


Deus me fez ver você no reflexo


É vazio quando aborto as pessoas da minha vida


Pois eu só consigo transbordar quando me encho de você


Frio se fez quente quando as estações se uniram


E elas no fim do dia me fizeram finalmente dormir


Eu pude sentir tudo, o vento que me arrastou


E me levou sobre a grama cinza


Então eu respirei, gritei, e morri.


Morri em você, dentro de mim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Alguém

Como um tiro

No escuro, claramente invisível

No frio, quente e vazio

No silêncio, gritando tristeza!

Como um objeto

Gigante em meu bolso

Fazendo o meu gosto

Com mil utilidades reaproveitáveis

Como um desvio

Pecando em novos caminhos

Relembrando novidades

Criando cores de humor

Uma porta entreaberta

De madeira para o ódio

Fechada pra estranhos e horrores

De aço para todo seu amor.

domingo, 26 de setembro de 2010

Concepção

Ao se aproximar, por um instante de vento em meus olhos, sinta que ainda falta-me um pedaço, que espera por alguém, onde eu possa soprar e sentir o ar cobrir ambos os corpos. Eu poderei lhe mostrar os prazeres mais embriagados, as sensações mais estimulantes, e o amor mais difundido. Vejam todos aqueles que me encobrem enquanto eu fujo.
E vou abraçando a insegurança. De vez em quando brincando com a infantilidade, mesmo não suportando-a. E quando a intensidade aumenta eu vou acordando a preguiça, mas jamais consegui tirá-la debaixo do meu travesseiro.
Agora inauguro meus sentimentos. Não podemos cuspir em meros pratos furados, dizendo que existe um tipo. Não escolho alguém para me declarar a parede durante a noite, nem alguém para sofrer opcionalmente.
Simplesmente bate a porta,e nessas horas todos são receptivos, pois acreditam que seja o amor que lhe procura. Não tem olhos, ouvidos, opinião, apenas um coração que não sabe e não controla as escolhas mais sensatas, pois as coisas complicadas são os nós que insistimos em arrancar da garganta, e amarrá-los no coração.
Acabamos por ser enforcados, não podemos fazer nada além de agradecer, e é claro sempre no ultimo momento de razão, pois temos os dois melhores presentes dentro de uma única caixa inexorável.
A vida e o amor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Humano

De onde partiu?
Quando foi real?
O que é verdade?
O que não é mentira?


Tempo de se importar já se foi
Tempo de realizar não existe
Não finja que ouviu
Ninguém pretende querer


Nunca foi tão forte
Ser sempre tão falso
Assim como o tudo em nada
Que acredita em conseqüências


Quem é sua ajuda?
Talvez o coração, que o mantenha vivo
E quem é seu coração?
Talvez o humano, que lhe faz morto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Poesia

Olhos acesos para dormir

Com rostos, perfis, sem discutir

Ao lento movimento, as mãos

Direitas, puxam o gatilho, se aproximam

Desperta do sono vem ao encanto

Desfruto das folhas caindo, outono

De gotas de riso, escorre o orvalho

Ao rir do próximo, e eterno amado

Te joga, te cospe na água

Com os lábios, vem a prova

Não estraga, te bebe, quase nada

Nas folhas, os versos de tudo

Em sua alma não governa meu mundo

Pedidos, em mim dentro, perdidos

Que sobre o rastro de vista

Te olho, de quando em visita

Te chora, por dentro que grita

Amor que encosta e habita

Não se sabe aonde vai, ou se fica

Construi a magoa na areia

Tempestade empurra, maré vem cheia

Inundam suas linhas mais finas

Descostura, assassina a menina

Intenso é o vento que encobre

Balança, enriquece meu coração pobre

Engana que pensa, o breve, passageiro

Pois ainda sopra, guiando o veleiro

Em mar escuro há certa magia

Enfim naufraga, engasgada na ilha

Há mato, azul céu e calmaria

Onde lá encontro paz e alegria

Eu vou, abraço o sol

E sozinha, beijo a poesia.

Lua


Abra a porta, Branca

Esclareça para mim

Feche os braços, abra os olhos

Empurre minha maçaneta

E gire a minha cabeça


Aperte a madeira

Até a farpa enroscar em minha pele

Devagarzinho puxe com a tesoura

Os cortes de quando eu beijei o vidro


Apague os desenhos do meu corpo

Porque dói de mais deixá-los ao sol

Pois arrancaram minhas janelas

E meu teto não é revestido


Amarraram-me a um colchão de papel

E furtaram minha alma

E o sol foi sucumbido

Deixando você somente do outro lado

E agora ele queima sem parar

Castiga-me por traí-lo

E me culpa por te amar


Branca, só sei gritar, chorar

As suas crateras não são defeitos

São esconderijos que me tiram dessa dor

Meu corpo geme sem parar

Devolve minhas janelas para eu te olhar

O seu crescer, diminuir, encher
O sol pode ser forte, imenso, caloroso
Mas impossível de se olhar

Mas as suas fases, a sua cor, todos podem ver

Eu te olho nos olhos, só eu sei admirar você

Ahh Branca não salve todos, me salve do sol

Não ilumine todos, me ilumine agora

Não ame todos, Branca seja minha, pra sempre.