quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu sou



Eu sou um pássaro sem pernas

Um peixe sem asas

Um rio sem água

Sou morta de pedra

Enterrada na madeira

Um bicho de seda

Uma fruta adormecida

Um vinho quase azul

Eu sou o céu embaixo da terra

Eu sou a terra acima do céu

A calha que chove na casa

A chuva que seca a calha

A alma que move o corpo

O corpo que mata a alma

Eu sou a lâmpada que apaga

Eu sou a escuridão que ascende

Eu sou a vida que o imposto paga

O imposto que cobra da vida

Eu sou o coração que não bate

Eu sou a batida que faz parar

Eu sou o favor de nada

Eu sou o contrário de tudo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Enquanto



Pegue seu dinheiro


Beije a minha faca


E corte sua prepotência


Enquanto observa meu sangue no reflexo



Pegue suas verdades


Beije seu orgulho


E cuspa-o em meu rosto


Enquanto me ama um pouco menos



Pegue seu perfume


Beije o resto do seu pulmão


E esfregue na nicotina


Enquanto a fumaça me apodrece



Pegue em meus braços


Beije os meus medos


E me assassine devagar

Enquanto eu ainda te amo.

Destino


Todos os lados entre nós cercados

Distância é um prazer cruzá-la

Amor da coleção de ouro

Que o guarda em cada sorriso

Que aguarda meu deslize

Até seus tesouros eu me apossar

Abrace-me até águas jorrarem

Para que os rios possam correr

Curvo-me diante do teu espelho

Pois só assim posso ver

Beleza, você que sem querer

Atua com os olhos pra poder

Mostrar tudo o que eu preciso realmente saber

Que várias qualidades consegue ter

Desdobra-se pra alegrar

Dias ruins meus que irão passar

Amor que consegue expressar

Antes mesmo de me fazer falar

Pois frágeis cristais seus não me deixam dormir

Mas insiste em persistir

Eu te peço com carinho

Que de mim não vá fugir

Se for embora um dia

Leve consigo um momento nosso de luz

Pois por você agora, eu apagaria meu coração

Pra que sua vida pudesse ser iluminada todos os dias

E como a promessa de que voltaria

Sei que irá trazer em dobro todas as luzes

As vermelhas, azuis, brancas

Inclusive as inalcançáveis

Daquela nossa constelação dupla

Os sentimentos e as razões.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sinfônica






Na chuva eu te beijaria até secar as nuvens

Enquanto seus olhos molham os meus

Estarei ouvindo o que sua voz esconde

E então poderei criar nossa coragem



Junto com você lerei novos livros

Logo em seguida criarei um com a nossa história

Eu vou fazer com que todos sintam o que eu senti

Que descansem os ossos em companhia do amor

Será o livro mais longo sobre um dia



No entanto eu curvo meus medos

Sigo em linha reta diante você

O seu nome é um pretexto

Pra todos os significados lindos que já busquei

Quando o sol te cobrir, eu te farei brilhar

Quando a lua te banhar, eu te colocarei pra deitar

Meu amor irá com você além do corpo

Te levará a um palco imenso

E então, se você dormir com as partituras

Acordará com a minha orquestra apaixonada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vermelho






As folhas entre os galhos

Os galhos introduzidos no tronco

O tronco fixado na terra

Olhamos as pontas brancas e brilhantes

Nesse asfalto azul sobre nossas cabeças

Tão sereno que gorjeia pelo escuro


O produto formado pelos céus

Forjado pelas crenças

De que o futuro a mim pertence

Mas morre na certeza humana


Um cisco já não é pretexto

de imensas e duras lágrimas

Quando a certeza é causa

A duvida brinca com a conseqüência


Sujamos o chão de vermelho

Com mais vermelho será coberto

O amor é a resposta,

De que novas cores virão

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sua




Durante a noite que divido com você

Pude notar sua presença todos os dias

Viva e quente dentro de mim

Limpei tudo ao meu redor

Rasguei todas as coisas sujas e feias

E te coloquei no centro da minha casa

No centro da minha vida

E por onde eu andava as maravilhas suas me encantavam

Eu criava todo dia um caminho diferente até você

Pra que não ficasse sempre tudo igual dentro da gente

Eu ainda nem pude lhe dizer todas essas coisas

Não posso nem me mover pois se for pra você

Eu me tremo, caio, me apaixono mesmo desfigurada

Você chegou a mim em lugares que nem eu pude chegar

Atravessou todo aço que me encobre

Me deixou mole feito sorvete no sol

Não sei definir o que se passou perante meus olhos

Mas procuro descobrir o olhar que meu coração te causa

Descobrir o espaço entre você e eu

Aquele espaço onde minha vida tropeçou na sua

Onde sua sorte se tornou a minha

Onde o meu jardim suspira para o teu e diz

“Eu sou sua”.

domingo, 24 de outubro de 2010

Almas

Esperava por cada instante, esperava pelo próximo segundo, assim gota por gota de tempo era apenas por elas. A parte mais alta a que aponta para o infinito azul escuro e amolecido. O frio das nuvens doces e arroxeadas que roçava meu corpo. Dentro era quente, quente como lençol que abraça o corpo nu e maciço. A casa amarela com uma pincelada cinza, e a vidraça azulada vinha junto de meus pensamentos e meus passos de esperança com meus olhos marejados e cruéis, minhas mãos claras e carentes, o corpo brilhante e latente de algo pulsando em vibrações constantemente neutras e adormecidas.

O interno meu diz “por que justamente pra sempre?” me assusta. Até quando haverá explicação acima de explicação sobre o universo? O nosso universo. Eu me apoio em humanos pra descobrir o que é a felicidade, em mim cantam mil vozes doces com a resposta, e o que vem depois disso? O chão derrete novamente, e o poço vai ficando cada vez mais fundo e eu cada vez mais impudica, um poço esverdeado, escorregadio onde minhas palavras sozinhas tentam escalar a parede mofada inutilmente. Os tijolos umedecidos e frios, como os beijos sem amor que recebi, beijos cheios de magoa , molhados e ignorados como panos de chão jogados no quintal.

Aquela luz mais imensa, pois carrega a noite, e arrasta até o outro lado do universo. Grande minhas vidas, possuo todas dentro de uma caixa inexorável, que treme ao sentir as asperezas de todas as mãos famintas, curvas, insatisfeitas e rudes. Insistente sou eu, que corre até a lua pra ver não apenas uma, mas todas as muralhas possíveis, e desejar tocá-las, andar e andar até a queda de todos os meus ossos, fracos e possivelmente inseguros.

A construção mais bela, onde cada sonho meu foi feito, onde os anseios velhos adormecem, os sons favoritos giram e giram a todo tempo. Lá eu quis reciclar as minhas virtudes, abandonar todos os meus dias ruins, restaurar apenas as atitudes que não possuo, a coragem de ser humano, quis assumir uma posição da qual ninguém almeje, dominar uma vida que domine a minha, encarná-la e fazê-la a mais audaciosa possível. Devorá-la três vezes ao dia, e deferir meus segredos ao estar sempre correta em relação aos medos que possuo.

A mais intima do céu. Lhe segura à mão e balança, e todos os olhos frescos e incondicionados vão balançar junto, e cada par de pés irá se erguer a fim de tocá-la. Acredito que seja a forma trigonométrica das nuvens. Todos aqui presentes, quero agradecer de forma solene por serem mais que expectadores, entediados, ou na melhor das hipóteses apaixonados. Às vidas mais inocentes, que ao verem-nas criam em si imagem de fraternidade, mal sabem as tantas divindades do nosso imenso mundo, e aqui as fitas azuis, amarelas, verdes e brancas.

Cada cor, um espírito, um sabor, uma evolução. Ao longo do processo se acomodam aquelas faces murchas e mirradas, crescem e concomitantemente minguam do lado que lhes parece cômodo. Com janelas fechadas, e todas aquelas portas suadas e sedentas. Os quadros de tais na parede, firmes e com poses irradiantes, mas sentimentos fuscos, sem arrancar os sorrisos da família. Tudo é visto como perfeição. Todos querem passar por paisagens e dizer o tamanho da bagagem que carregam em cada coração.

Forte e rígidas como meus sentimentos de atração quase que fatal, quase eu digo por que já estava morta, atração já havia sido plastificada, o interior todo revestido de certo material para manter a temperatura, não adiantava muito, pois já estava fria e eternamente silenciada. Morte comprada em confeitaria de amor, contendo tanto açúcar que mal se sente o gosto barato e único do corpo confeitado. Para mim um caixão feito de algumas alegrias, e quem não sentir ou ver ou eram aqueles sem paladar algum. São elas, que exclusivamente a vida lhes engorda e abraça, e as chama de melhores amigas, lambe todo o açúcar. Derretem cada tristeza, todas elas de mãos dadas umas com as outras. São elas que todos querem, lindas e doces, pesadas e encarregas de nos fazerem crer em diversos sonhos. Superior. Delas, suas, nossas e minhas.

Pós certeza



As estações, várias delas


Gritam ao passar em mim, queridas paredes


Simulam alcançar, amedrontar


Dentro de pessoas, vivas, acreditaria?



Uma luz em fim de noite


Não, nada de sol queridos raios


Por onde brilhar a mim?


O encanto falece durante o sono



Não, não são os sons


Quem dirá um violino


Cordas, queridos desejos


Peço-lhe, extirpar-me a garganta



Duvidas, não te quero


Surgem, surgem, o que fazer?


Encharcando o mapa dos meus oceanos


Dentre os quais não há de chover



Do suor, tiro-lhe os venenos


Os sons, batidas, querido silêncio


A verdade se cobre em meus mantos


Medo. Dor, dos olhos, Espanto.

Mãe

Desde o começo da sua criação

Fui feita como sonhos no escuro

Enquanto suas lágrimas escorriam

O sangue da vida cobria meu corpo


E ela repetia sempre

Na alegria de suas conquistas

E na tristeza das nossas dificuldades

Que seguiríamos a chuva, pra que ela nos molhasse com a prosperidade.


Em lugares distantes nós fomos

Pra lugares distantes pensamos

Naqueles que nos vigiam

E talvez sejam capazes de criar nosso futuro


Mas agora as cordas do relógio

São bem mais complexas

Me dizendo que o tempo é um instante curto

Assim eu vivo e percebo como tudo é sagrado


Esse vento envelhece meu rosto

E traz impurezas para os meus olhos

Me empurra contra parede

E me faz olhar pro céu


Que vontade de experimentar a lei da vida

Descobrir se a verdade que eu penso,

Será a mesma da qual eu fujo!



Não posso me entregar pra eles

É o que querem que eu faça

Mas não vou, meus sentidos já sofreram demais

Um coração tão fora de foco não chamaria atenção


Eles têm tantas faces

Prontas pra te causar espanto

Mas você não pode se esconder

Pegue suas aflições e as transporte para claridade


Seu sangue escorrido

É mais belo que uma vida de mentiras

É mais sábio do que seus arrependimentos

É mais valioso do que sangue de unicórnio

Não fuja dos seus medos

Não se mate com suas duvidas

Escolha teus meios de viver

E olhe pra cima, novamente!

sábado, 23 de outubro de 2010

Seja você









Quero inundar tua alma

Vestir o preço que você me cobra

Suprir de branco a nossa lua

Me enfeitar para ser o oposto do que preciso

Pois você precisa de alguém que não seja eu

E eu preciso que você me queira como outro atrativo

Que se divirta comigo enquanto atuo no circo

E a partir dali desejo que seja feliz

Seja jovem e envelheça apenas nos últimos dias

Seja alguém que espera por tudo e por todos

Seja apenas pra você, mas não tranque seus céus

Porque muitos vão querer se aventurar

Muitos vão querer suas boas intenções.

Procure respostas dentro e fora de tudo

Mas não se esqueça que a ultima opinião

É a que habita dentro de você

Porque um dia tudo acaba

Mas tua alma permanece intacta

Um dia você verá que é muito melhor viver em ti

Do que viver se encostando em pessoas que não tem perspectiva

O tempo vai te mostrar o quão cicatrizante ele é

E depois de tudo isso, o mundo a sua volta vai ser completamente seu

Será a definição, a escolha, o caminho

E sempre nada vai se comparar a você

Seja pra quem for

Mas nada é melhor que você, a não ser você mesmo.






quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Afeto


Quando te tenho por perto
Quando escreve em meu caderno
Dizendo um toque musical que dança em meu coração
No movimento de seda dos seus dedos que tocam meu rosto
No ar que exala quando corremos pelo céu
Quando seu corpo balançava e tropeçava em meus olhos
Nos teus lábios, feito doce que brilha
A menina sou eu que desejo como criança inocente
Te abraça, somente ela sente
Mas você me agrada
Me agarra, sem ao menos saber
Você guarda todas as cores
Guarda todas as flores, que te dei
Faz caretas para o sol sair em meu dia nebuloso
Faz febre para aliviar meu desgosto
Só não vê, não percebe
Que sou eu que ardo em febre
Pois quanto mais eu te negue
Eu quero mais me entregar
Com aquele seu gesto simples de afeto
Aquele onde fez meu corpo calar
Minha pele estalar, seca, feito madeira em brasa
Minha calma em fúria e escassa
Onde minha vida em ti fica
E a tua em mim passa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Inferno



Prantos cantados, por nós foram iluminado
Fui de sopro em sopro me quebrando
Ao ver e ouvir o som da máquina te levando de mim
O choro foi arranhando meu ventre

A distância permanece frustrando meu coração
E o universo de pessoas com pressa
Passava em meus olhos inchados, devagar
Com o brilho de areia, e ardia

Nem abri-los e fechá-los podia
Me contentar não bastaria
A queda do destino me impedia de lhe ter novamente
Mas buscarei suas lindas laminas

E fazer com que meu sangue se arrependa,
E que eu possa aprender com seus cortes todos os dias
Assim vou parando de procurar soluções em oficinas infernais.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vazio


Eu perdi sem possuir


Ganhei dor sem sentir


Você me segurava tão feliz


Mas construiu seu sonho longe demais


Tão longe que me deixou sem sono


Deixei a luz apagada, mas meu coração está aceso


Sangrando gelo pelo suor


Nossos dias foram sobrando nas semanas


A única coisa que faltava eram seus vestígios


Tudo vem me dizer que você se foi


Mas porque ainda te vejo na minha janela?


Ou será que é meu espelho?


Por ser tão parecida com você


Deus me fez ver você no reflexo


É vazio quando aborto as pessoas da minha vida


Pois eu só consigo transbordar quando me encho de você


Frio se fez quente quando as estações se uniram


E elas no fim do dia me fizeram finalmente dormir


Eu pude sentir tudo, o vento que me arrastou


E me levou sobre a grama cinza


Então eu respirei, gritei, e morri.


Morri em você, dentro de mim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Alguém

Como um tiro

No escuro, claramente invisível

No frio, quente e vazio

No silêncio, gritando tristeza!

Como um objeto

Gigante em meu bolso

Fazendo o meu gosto

Com mil utilidades reaproveitáveis

Como um desvio

Pecando em novos caminhos

Relembrando novidades

Criando cores de humor

Uma porta entreaberta

De madeira para o ódio

Fechada pra estranhos e horrores

De aço para todo seu amor.

domingo, 26 de setembro de 2010

Concepção

Ao se aproximar, por um instante de vento em meus olhos, sinta que ainda falta-me um pedaço, que espera por alguém, onde eu possa soprar e sentir o ar cobrir ambos os corpos. Eu poderei lhe mostrar os prazeres mais embriagados, as sensações mais estimulantes, e o amor mais difundido. Vejam todos aqueles que me encobrem enquanto eu fujo.
E vou abraçando a insegurança. De vez em quando brincando com a infantilidade, mesmo não suportando-a. E quando a intensidade aumenta eu vou acordando a preguiça, mas jamais consegui tirá-la debaixo do meu travesseiro.
Agora inauguro meus sentimentos. Não podemos cuspir em meros pratos furados, dizendo que existe um tipo. Não escolho alguém para me declarar a parede durante a noite, nem alguém para sofrer opcionalmente.
Simplesmente bate a porta,e nessas horas todos são receptivos, pois acreditam que seja o amor que lhe procura. Não tem olhos, ouvidos, opinião, apenas um coração que não sabe e não controla as escolhas mais sensatas, pois as coisas complicadas são os nós que insistimos em arrancar da garganta, e amarrá-los no coração.
Acabamos por ser enforcados, não podemos fazer nada além de agradecer, e é claro sempre no ultimo momento de razão, pois temos os dois melhores presentes dentro de uma única caixa inexorável.
A vida e o amor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Humano

De onde partiu?
Quando foi real?
O que é verdade?
O que não é mentira?


Tempo de se importar já se foi
Tempo de realizar não existe
Não finja que ouviu
Ninguém pretende querer


Nunca foi tão forte
Ser sempre tão falso
Assim como o tudo em nada
Que acredita em conseqüências


Quem é sua ajuda?
Talvez o coração, que o mantenha vivo
E quem é seu coração?
Talvez o humano, que lhe faz morto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Poesia

Olhos acesos para dormir

Com rostos, perfis, sem discutir

Ao lento movimento, as mãos

Direitas, puxam o gatilho, se aproximam

Desperta do sono vem ao encanto

Desfruto das folhas caindo, outono

De gotas de riso, escorre o orvalho

Ao rir do próximo, e eterno amado

Te joga, te cospe na água

Com os lábios, vem a prova

Não estraga, te bebe, quase nada

Nas folhas, os versos de tudo

Em sua alma não governa meu mundo

Pedidos, em mim dentro, perdidos

Que sobre o rastro de vista

Te olho, de quando em visita

Te chora, por dentro que grita

Amor que encosta e habita

Não se sabe aonde vai, ou se fica

Construi a magoa na areia

Tempestade empurra, maré vem cheia

Inundam suas linhas mais finas

Descostura, assassina a menina

Intenso é o vento que encobre

Balança, enriquece meu coração pobre

Engana que pensa, o breve, passageiro

Pois ainda sopra, guiando o veleiro

Em mar escuro há certa magia

Enfim naufraga, engasgada na ilha

Há mato, azul céu e calmaria

Onde lá encontro paz e alegria

Eu vou, abraço o sol

E sozinha, beijo a poesia.

Lua


Abra a porta, Branca

Esclareça para mim

Feche os braços, abra os olhos

Empurre minha maçaneta

E gire a minha cabeça


Aperte a madeira

Até a farpa enroscar em minha pele

Devagarzinho puxe com a tesoura

Os cortes de quando eu beijei o vidro


Apague os desenhos do meu corpo

Porque dói de mais deixá-los ao sol

Pois arrancaram minhas janelas

E meu teto não é revestido


Amarraram-me a um colchão de papel

E furtaram minha alma

E o sol foi sucumbido

Deixando você somente do outro lado

E agora ele queima sem parar

Castiga-me por traí-lo

E me culpa por te amar


Branca, só sei gritar, chorar

As suas crateras não são defeitos

São esconderijos que me tiram dessa dor

Meu corpo geme sem parar

Devolve minhas janelas para eu te olhar

O seu crescer, diminuir, encher
O sol pode ser forte, imenso, caloroso
Mas impossível de se olhar

Mas as suas fases, a sua cor, todos podem ver

Eu te olho nos olhos, só eu sei admirar você

Ahh Branca não salve todos, me salve do sol

Não ilumine todos, me ilumine agora

Não ame todos, Branca seja minha, pra sempre.

sábado, 21 de agosto de 2010

Assim

Assim:
Quando o céu carrega as nuvens para o outro lado
Quando seu sorriso me pega ofegante no calor
Eu jurei não te amar novamente
Mas as nuvens voltaram e abriram meu coração
Como se toda paixão fosse nova
E cada beijo seu fosse melhor
A cada distância que me levo
Mas próxima estou do som
Das luzes que seus olhos transmitiam
Das melodias que te faziam dançar
Do cabelo que roçava meus panos
Do cheiro da saudade que tinha.
Porque sempre nas noites que surge arrependimento
Eu construía uma ponte incolor até você
E sofro até poder te ver aqui
Eu corro pra não fugir, chegar a cores, viva.
Branco e preto são opostos do que você me faz sentir
Mas minha alma precisa demais de ti
Se de mim, o seu destino usufruir
Seja breve se preferir
Porque na demora de seus passos
Em curto ou longo caminho
Destino que seja, clamando seu nome
Espero meu amor, que grite por mim
Enquanto acordada posso estar
Pois gritos em noites de sono afastarão você de mim.

sábado, 7 de agosto de 2010

Amiga




parece como o céu em bilhões de anos atrás
feito com suas raízes mais belas
formando todos os meus sonhos
que me fazem buscar pela esperança em vozes idolatradas
o único som que escutarei em suas palavras
é o mesmo que bate e pulsa em seu coração
que reluz em seu mais sensato sorriso
as lágrimas não combinam com seu tom de pele
por que em meus olhos você é a pureza que desejam encontrar
pode não ser para todos
mas para mim já basta
que existam grades constantemente encadeadas em sua vida na minha
e que a única coisa que padeça
seja sua tristeza dentro de nós
e que cada passo que desenha o caminho
seja o destino que mais lhe fascina
pois que assim seja minha garota
venha unir-se a mim a fim de encontrar
o talvez impossível pote de ouro
não aquele do outro lado do arco-íris
mas na face nossa do espelho
não creia em mágica em relação a isso
mas creia em meu amor
estampadonas janelas de todas as casas
onde jamais você conseguiria ver
o fundo engarrafado de solidão
que ao meu ladovocê jamais irá encontrar
porque minha vidalhe serve de agradecimento belo e eterno
crie a musica em minha alma
e eu lhe entregarei minhas sinfonias
que rangem pelas beiradas
em um som agudo e tremulo
Cantando todos os momentos assim
"Minha garota, eu te amo
nos mais belos versos sonoros."


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobra

Em meio a tanto barulho

Pude ouvir seus lábios calarem meus gritos

A multidão te observa como ser supremo de admiração

Como eu tão calada e escondida entre as sombras

Consegui ser sua escolha para o caminho da luz

Se mal me aceito entre os tais mais inferiores ainda

Como pode dizer que sou o completo para o que lhe falta

Se quando a noite canta, me nego a participar do show

E você acredita que na manhã sempre eu vá mudar

Imagine quanto custaria a você alterar todo esse sistema

Reflita quando eu digo que não há possibilidades

O que reside em minhas raízes é o gosto que a terra tem

Que me fez acostumar com a rotina dos muros sujos

Dos lares humildes, das janelas mais esperançosas

Dos motins por algo quente, algo limpo

Não tente coagular o que escorre em mim

Sacrifício é algo que não me atrai mais

É como escalar suas montanhas mais geladas

Chegar ao topo ver o sol do futuro nascer

E derreter meus pecados, minha tristeza

Quantos dias serão adicionados em seu calendário?

Conte todos, exceto aqueles em que eu estava presente

Porque na verdade eu nunca estive.

Sou seu fantasma favorito, seu fã escravo e assíduo

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Excesso


Por que esperar?
Se sei que você não vem
Pra que chorar?
Se sei que você não vai secar minhas lágrimas
Já é tarde pra esperar sua atenção


Já respirei bastante sua ingratidão
Hoje me faltar ar pra falar de mim
Você tirou tudo que tinha
Só deixou seu silêncio


Sempre será um sorriso a menos em meu rosto
Uma fonte a mais em meus olhos
Um desperdício a mais de palavras
E minha única chance de ter certeza


O que acontece quando queremos mais?
O coração ignora seu senso de direção
E desaba em suas ações precipitadas
Não mais bate, discretamente explode.

sábado, 17 de julho de 2010

Portão


No meio da noite eu te buscava entre as cores da parede. Vi entre elas o formato das grades do portão da sua casa.


Durante minhas buscas, meus braços me davam a impressão de que meu trabalho que eu insistia em concluir,nunca iria se realizar. Jamais passaria daquelas suas grades, a não ser que eu fosse gentilmente convidada. Acredito que não.


Deslizam-se dias. O portão já não e tão vermelho comparado com a ultima visita que eu havia feito. Mas meu trabalho dependia dele, de escancarar-se pra mim. Por bem ou por mau.


Onde estou quando não trabalho em você? Pra ser sincera fico em casa esperando para procurar novamente nas paredes.


Parece loucura quando te quero, porque sempre estou me ostentando, pra ser perfeita futuramente talvez em seus olhos. Inexorável portão que me nega de você.


Quando, e se um dia me convidar com esses seus olhos para entrar em seu humilde lar. Não ofereça água, chá, muito menos café. Sugiro apenas que me ofereça um canto, uma esquina de parede, onde eu possa te olhar, mas dessa vez irá saber que sutilmente lhe observo. Num instante de sonho profundo seus braços irão dar descanso aos meus, irão balançar em minha direção ao som de um piano que canta em nossos pés, que nos faz deitar, diante de seu palco mágico repleto de estrelas, os assíduos espectadores de um show noturno.


Parte de mim se rebela ao tocar seu rosto, cada gota de calor, suava intensamente em seus contornos montanhosos. Por que sim? Diz você diante de tudo que eu questionasse sobre o amor.


A partir de tal momento surgiu esse seu portão vermelho. Desse seu jeito de querer bloquear tudo, esconder-se, proteger seu lar, excluir de mim, de todos.


E não é apenas porque sim! Na verdade, o amor te assusta, o amor é superior a você. Seu desejo é ser maior, magnânima, mais forte até que ele.


Sua imagem diz que nada te infecta, nada te sujeita, pois criou o portão. Feito de lava de vulcão. Que tanto queimava em mim, fez de eruptivo meu coração. Agora endureceu, não é mais meu. É apenas decorativo, assustador, pra quem passa em frente em clima de paisagem, numa terra quente de sol. É verão quase sempre, pediram sem querer pra que fosse assim. Pena que não sou chuva. Poderia cair constantemente em você, pra te desfigurar, corroer. Pra que não me aflija mais do que jamais mereci.


Mas ainda é um portão. Esse é meu trabalho, que depois de me despedaçar mais do que pude. Agora me sinto predestinada para concluí-lo. Atiro minhas armas espirituais, junto com meus braços, meu corpo brilha munido de uma força sobre-humana que me surge. Suscito um toque que arranca as grades da terra, que começa a ferver novamente, me faz gritar num estado doentio, queimando-me mais uma vez. Sem ser convidada, já não preciso, o portão já faz parte de mim. O vulcão está habitando minhas novas cicatrizes. E seu coração bate naquele canto do lar, tão transparente como água, tão quente como um chá, tão forte como café. Vem-me a sede.


As paredes agora têm seu formato visto de tão perto e tão original, que antes era ofuscado pelo portão. Brilha em mim, obedecendo à dona da beleza que habita o céu eternamente pelos nossos verões, e se declara para o leito da noite fazendo seu amor ser maior que a si mesma. Sem medo, ou intervenções.


Quem diz que me olhou apenas por uma noite que seja, afirma o quão busquei você aqui. Meu trabalho finalmente foi concluído. Te tenho comigo. Sem grades, liberdade dentro do seu antigo, e meu novo lar. Onde meu corpo sem escrúpulos chorava.


E você que eu tanto procurava nas noites, soube me colocar junto com as cores na parede. Durante toda minha vida. Eu não sei quanto tempo vou ter, vou ficar. Sem dor, só passado pintado, de vermelho. Em vida, em sangue, em fogo, seu lar. Meu destino.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Conjugue-me

Complete-me no cantar das minhas angustias
Chore-me no meu ultimo suspiro
Cubra-me na minha primeira noite de frio
Engana-me durante as noites de amor

Molda-me nos sinais de sua alma
Observa-me em todas as vidas escuras
Cega-me em cada olhar seu
Transborda-me em lágrimas mortas

Reflicta-me em seu espelho mágico
Suga-me em suas bebidas quentes
Construa-me em seu coração
Corte-me das suas veias

Queime-me nas suas intenções amigáveis
Arda-me em cada chicotada uniforme
Arraste-me em seus rangeres espirituais
Odeie-me em seus resquícios de amor.