quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Eu sou



Eu sou um pássaro sem pernas

Um peixe sem asas

Um rio sem água

Sou morta de pedra

Enterrada na madeira

Um bicho de seda

Uma fruta adormecida

Um vinho quase azul

Eu sou o céu embaixo da terra

Eu sou a terra acima do céu

A calha que chove na casa

A chuva que seca a calha

A alma que move o corpo

O corpo que mata a alma

Eu sou a lâmpada que apaga

Eu sou a escuridão que ascende

Eu sou a vida que o imposto paga

O imposto que cobra da vida

Eu sou o coração que não bate

Eu sou a batida que faz parar

Eu sou o favor de nada

Eu sou o contrário de tudo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Enquanto



Pegue seu dinheiro


Beije a minha faca


E corte sua prepotência


Enquanto observa meu sangue no reflexo



Pegue suas verdades


Beije seu orgulho


E cuspa-o em meu rosto


Enquanto me ama um pouco menos



Pegue seu perfume


Beije o resto do seu pulmão


E esfregue na nicotina


Enquanto a fumaça me apodrece



Pegue em meus braços


Beije os meus medos


E me assassine devagar

Enquanto eu ainda te amo.

Destino


Todos os lados entre nós cercados

Distância é um prazer cruzá-la

Amor da coleção de ouro

Que o guarda em cada sorriso

Que aguarda meu deslize

Até seus tesouros eu me apossar

Abrace-me até águas jorrarem

Para que os rios possam correr

Curvo-me diante do teu espelho

Pois só assim posso ver

Beleza, você que sem querer

Atua com os olhos pra poder

Mostrar tudo o que eu preciso realmente saber

Que várias qualidades consegue ter

Desdobra-se pra alegrar

Dias ruins meus que irão passar

Amor que consegue expressar

Antes mesmo de me fazer falar

Pois frágeis cristais seus não me deixam dormir

Mas insiste em persistir

Eu te peço com carinho

Que de mim não vá fugir

Se for embora um dia

Leve consigo um momento nosso de luz

Pois por você agora, eu apagaria meu coração

Pra que sua vida pudesse ser iluminada todos os dias

E como a promessa de que voltaria

Sei que irá trazer em dobro todas as luzes

As vermelhas, azuis, brancas

Inclusive as inalcançáveis

Daquela nossa constelação dupla

Os sentimentos e as razões.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sinfônica






Na chuva eu te beijaria até secar as nuvens

Enquanto seus olhos molham os meus

Estarei ouvindo o que sua voz esconde

E então poderei criar nossa coragem



Junto com você lerei novos livros

Logo em seguida criarei um com a nossa história

Eu vou fazer com que todos sintam o que eu senti

Que descansem os ossos em companhia do amor

Será o livro mais longo sobre um dia



No entanto eu curvo meus medos

Sigo em linha reta diante você

O seu nome é um pretexto

Pra todos os significados lindos que já busquei

Quando o sol te cobrir, eu te farei brilhar

Quando a lua te banhar, eu te colocarei pra deitar

Meu amor irá com você além do corpo

Te levará a um palco imenso

E então, se você dormir com as partituras

Acordará com a minha orquestra apaixonada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vermelho






As folhas entre os galhos

Os galhos introduzidos no tronco

O tronco fixado na terra

Olhamos as pontas brancas e brilhantes

Nesse asfalto azul sobre nossas cabeças

Tão sereno que gorjeia pelo escuro


O produto formado pelos céus

Forjado pelas crenças

De que o futuro a mim pertence

Mas morre na certeza humana


Um cisco já não é pretexto

de imensas e duras lágrimas

Quando a certeza é causa

A duvida brinca com a conseqüência


Sujamos o chão de vermelho

Com mais vermelho será coberto

O amor é a resposta,

De que novas cores virão