sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sua




Durante a noite que divido com você

Pude notar sua presença todos os dias

Viva e quente dentro de mim

Limpei tudo ao meu redor

Rasguei todas as coisas sujas e feias

E te coloquei no centro da minha casa

No centro da minha vida

E por onde eu andava as maravilhas suas me encantavam

Eu criava todo dia um caminho diferente até você

Pra que não ficasse sempre tudo igual dentro da gente

Eu ainda nem pude lhe dizer todas essas coisas

Não posso nem me mover pois se for pra você

Eu me tremo, caio, me apaixono mesmo desfigurada

Você chegou a mim em lugares que nem eu pude chegar

Atravessou todo aço que me encobre

Me deixou mole feito sorvete no sol

Não sei definir o que se passou perante meus olhos

Mas procuro descobrir o olhar que meu coração te causa

Descobrir o espaço entre você e eu

Aquele espaço onde minha vida tropeçou na sua

Onde sua sorte se tornou a minha

Onde o meu jardim suspira para o teu e diz

“Eu sou sua”.

domingo, 24 de outubro de 2010

Almas

Esperava por cada instante, esperava pelo próximo segundo, assim gota por gota de tempo era apenas por elas. A parte mais alta a que aponta para o infinito azul escuro e amolecido. O frio das nuvens doces e arroxeadas que roçava meu corpo. Dentro era quente, quente como lençol que abraça o corpo nu e maciço. A casa amarela com uma pincelada cinza, e a vidraça azulada vinha junto de meus pensamentos e meus passos de esperança com meus olhos marejados e cruéis, minhas mãos claras e carentes, o corpo brilhante e latente de algo pulsando em vibrações constantemente neutras e adormecidas.

O interno meu diz “por que justamente pra sempre?” me assusta. Até quando haverá explicação acima de explicação sobre o universo? O nosso universo. Eu me apoio em humanos pra descobrir o que é a felicidade, em mim cantam mil vozes doces com a resposta, e o que vem depois disso? O chão derrete novamente, e o poço vai ficando cada vez mais fundo e eu cada vez mais impudica, um poço esverdeado, escorregadio onde minhas palavras sozinhas tentam escalar a parede mofada inutilmente. Os tijolos umedecidos e frios, como os beijos sem amor que recebi, beijos cheios de magoa , molhados e ignorados como panos de chão jogados no quintal.

Aquela luz mais imensa, pois carrega a noite, e arrasta até o outro lado do universo. Grande minhas vidas, possuo todas dentro de uma caixa inexorável, que treme ao sentir as asperezas de todas as mãos famintas, curvas, insatisfeitas e rudes. Insistente sou eu, que corre até a lua pra ver não apenas uma, mas todas as muralhas possíveis, e desejar tocá-las, andar e andar até a queda de todos os meus ossos, fracos e possivelmente inseguros.

A construção mais bela, onde cada sonho meu foi feito, onde os anseios velhos adormecem, os sons favoritos giram e giram a todo tempo. Lá eu quis reciclar as minhas virtudes, abandonar todos os meus dias ruins, restaurar apenas as atitudes que não possuo, a coragem de ser humano, quis assumir uma posição da qual ninguém almeje, dominar uma vida que domine a minha, encarná-la e fazê-la a mais audaciosa possível. Devorá-la três vezes ao dia, e deferir meus segredos ao estar sempre correta em relação aos medos que possuo.

A mais intima do céu. Lhe segura à mão e balança, e todos os olhos frescos e incondicionados vão balançar junto, e cada par de pés irá se erguer a fim de tocá-la. Acredito que seja a forma trigonométrica das nuvens. Todos aqui presentes, quero agradecer de forma solene por serem mais que expectadores, entediados, ou na melhor das hipóteses apaixonados. Às vidas mais inocentes, que ao verem-nas criam em si imagem de fraternidade, mal sabem as tantas divindades do nosso imenso mundo, e aqui as fitas azuis, amarelas, verdes e brancas.

Cada cor, um espírito, um sabor, uma evolução. Ao longo do processo se acomodam aquelas faces murchas e mirradas, crescem e concomitantemente minguam do lado que lhes parece cômodo. Com janelas fechadas, e todas aquelas portas suadas e sedentas. Os quadros de tais na parede, firmes e com poses irradiantes, mas sentimentos fuscos, sem arrancar os sorrisos da família. Tudo é visto como perfeição. Todos querem passar por paisagens e dizer o tamanho da bagagem que carregam em cada coração.

Forte e rígidas como meus sentimentos de atração quase que fatal, quase eu digo por que já estava morta, atração já havia sido plastificada, o interior todo revestido de certo material para manter a temperatura, não adiantava muito, pois já estava fria e eternamente silenciada. Morte comprada em confeitaria de amor, contendo tanto açúcar que mal se sente o gosto barato e único do corpo confeitado. Para mim um caixão feito de algumas alegrias, e quem não sentir ou ver ou eram aqueles sem paladar algum. São elas, que exclusivamente a vida lhes engorda e abraça, e as chama de melhores amigas, lambe todo o açúcar. Derretem cada tristeza, todas elas de mãos dadas umas com as outras. São elas que todos querem, lindas e doces, pesadas e encarregas de nos fazerem crer em diversos sonhos. Superior. Delas, suas, nossas e minhas.

Pós certeza



As estações, várias delas


Gritam ao passar em mim, queridas paredes


Simulam alcançar, amedrontar


Dentro de pessoas, vivas, acreditaria?



Uma luz em fim de noite


Não, nada de sol queridos raios


Por onde brilhar a mim?


O encanto falece durante o sono



Não, não são os sons


Quem dirá um violino


Cordas, queridos desejos


Peço-lhe, extirpar-me a garganta



Duvidas, não te quero


Surgem, surgem, o que fazer?


Encharcando o mapa dos meus oceanos


Dentre os quais não há de chover



Do suor, tiro-lhe os venenos


Os sons, batidas, querido silêncio


A verdade se cobre em meus mantos


Medo. Dor, dos olhos, Espanto.

Mãe

Desde o começo da sua criação

Fui feita como sonhos no escuro

Enquanto suas lágrimas escorriam

O sangue da vida cobria meu corpo


E ela repetia sempre

Na alegria de suas conquistas

E na tristeza das nossas dificuldades

Que seguiríamos a chuva, pra que ela nos molhasse com a prosperidade.


Em lugares distantes nós fomos

Pra lugares distantes pensamos

Naqueles que nos vigiam

E talvez sejam capazes de criar nosso futuro


Mas agora as cordas do relógio

São bem mais complexas

Me dizendo que o tempo é um instante curto

Assim eu vivo e percebo como tudo é sagrado


Esse vento envelhece meu rosto

E traz impurezas para os meus olhos

Me empurra contra parede

E me faz olhar pro céu


Que vontade de experimentar a lei da vida

Descobrir se a verdade que eu penso,

Será a mesma da qual eu fujo!



Não posso me entregar pra eles

É o que querem que eu faça

Mas não vou, meus sentidos já sofreram demais

Um coração tão fora de foco não chamaria atenção


Eles têm tantas faces

Prontas pra te causar espanto

Mas você não pode se esconder

Pegue suas aflições e as transporte para claridade


Seu sangue escorrido

É mais belo que uma vida de mentiras

É mais sábio do que seus arrependimentos

É mais valioso do que sangue de unicórnio

Não fuja dos seus medos

Não se mate com suas duvidas

Escolha teus meios de viver

E olhe pra cima, novamente!

sábado, 23 de outubro de 2010

Seja você









Quero inundar tua alma

Vestir o preço que você me cobra

Suprir de branco a nossa lua

Me enfeitar para ser o oposto do que preciso

Pois você precisa de alguém que não seja eu

E eu preciso que você me queira como outro atrativo

Que se divirta comigo enquanto atuo no circo

E a partir dali desejo que seja feliz

Seja jovem e envelheça apenas nos últimos dias

Seja alguém que espera por tudo e por todos

Seja apenas pra você, mas não tranque seus céus

Porque muitos vão querer se aventurar

Muitos vão querer suas boas intenções.

Procure respostas dentro e fora de tudo

Mas não se esqueça que a ultima opinião

É a que habita dentro de você

Porque um dia tudo acaba

Mas tua alma permanece intacta

Um dia você verá que é muito melhor viver em ti

Do que viver se encostando em pessoas que não tem perspectiva

O tempo vai te mostrar o quão cicatrizante ele é

E depois de tudo isso, o mundo a sua volta vai ser completamente seu

Será a definição, a escolha, o caminho

E sempre nada vai se comparar a você

Seja pra quem for

Mas nada é melhor que você, a não ser você mesmo.






quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Afeto


Quando te tenho por perto
Quando escreve em meu caderno
Dizendo um toque musical que dança em meu coração
No movimento de seda dos seus dedos que tocam meu rosto
No ar que exala quando corremos pelo céu
Quando seu corpo balançava e tropeçava em meus olhos
Nos teus lábios, feito doce que brilha
A menina sou eu que desejo como criança inocente
Te abraça, somente ela sente
Mas você me agrada
Me agarra, sem ao menos saber
Você guarda todas as cores
Guarda todas as flores, que te dei
Faz caretas para o sol sair em meu dia nebuloso
Faz febre para aliviar meu desgosto
Só não vê, não percebe
Que sou eu que ardo em febre
Pois quanto mais eu te negue
Eu quero mais me entregar
Com aquele seu gesto simples de afeto
Aquele onde fez meu corpo calar
Minha pele estalar, seca, feito madeira em brasa
Minha calma em fúria e escassa
Onde minha vida em ti fica
E a tua em mim passa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Inferno



Prantos cantados, por nós foram iluminado
Fui de sopro em sopro me quebrando
Ao ver e ouvir o som da máquina te levando de mim
O choro foi arranhando meu ventre

A distância permanece frustrando meu coração
E o universo de pessoas com pressa
Passava em meus olhos inchados, devagar
Com o brilho de areia, e ardia

Nem abri-los e fechá-los podia
Me contentar não bastaria
A queda do destino me impedia de lhe ter novamente
Mas buscarei suas lindas laminas

E fazer com que meu sangue se arrependa,
E que eu possa aprender com seus cortes todos os dias
Assim vou parando de procurar soluções em oficinas infernais.